quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Confundido com a incerteza da veracidade...

Que confusão!

Há muitos assuntos complexos e que envolvem um encadeamento teórico muito amplo - eles são de difícil elaboração e construção. Poderia ainda se dizer que eles são suficientes para "perturbar" o pensamento.

Mas o que produz mais confusão em todo este processo é a incerteza da informação (paradoxalmente a incerteza da veracidade), ou ainda, a parcialidade da informação. Esta última parece estar virando "moda", ainda mais quando a parcialidade adequadamente escolhida garante o resultado desejado, ou o propósito definido.

Para os educadores que atendem a nobre tarefa de estimular o conhecimento, fica difícil até mesmo ajudar a pensar, pois a confusão presente em grande fluxo de informações parciais, dificulta diálogos e explicações, quanto mais construções coletivas. Os jovens, principalmente aqueles mais expressivos, são a vitrine da confusão. Angustiados com as incertezas e inverdades do mundo contemporâneo se refugiam em filosofias "próprias" inquestionáveis.

Também é interessante observar o discurso de empresários e economistas. As contradições e incertezas são as frações mais contabilizadas nos empreendimentos (lógico que as estruturas revelam diferentes níveis de confusão). Incessantes e intensas tentativas de prever o amanhã do capital promovem um conhecimento superficial, talvez para poucos, algo até "interessante", pois confusão é um estado ou condição de vulnerabilidade, e em algumas situações, oportunidade para iniciativas de macro-exploração.

Culturalmente, a proposta plural ou "multi" de um modo de globalização injeta a "novidade" em tempo "oportuno", mas junto com ela, o esfacelar contínuo de todos os fundamentos da vida humana instaurando a condição da decepção. Tudo passa a ser "multi" e "inter". O que poderia ser oportunidade de autonomia em diversos sentidos, se constitui em oportunidade de mercado humano. Do fortalecimento do social para a incerteza do indivíduo que precisa se reconstituir sem confusão. Assim, o andar flutuando parece ser a nova "onda".

Por incrível que pareça, alienados defendem ferozmente sua posição e causa, mesmo sem reconhecer-se em tal condição. A "Matrix" nunca será desvelada, ela nem sequer aparece no vocabulário da vida. Não há lugar para apocalipse.

Mas para não estender demasiadamente o incentivo a esta coisa "chata" de pensar e promover ainda mais confusão, renova-se o simples conselho de questionar, verificar, investigar, deixar amadurecer, ampliar, fazer conexões, criticar, sintetizar e oportunizar o pensar diferente. Com o número de informações que circulam e são promovidas de forma alienante, uma atitude importante que deve anteceder é: seja seletivo, escolha aquilo que tem consistência em todos os sentidos.

Fuja da confusão!

Ederson Malheiros Menezes

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Estatisticamente falando

É decepcionante quando se verifica a distância dos resultados das eleições em relação às pesquisas anteriormente anunciadas. Será que as ferramentas estatísticas perderam sua eficácia? Será que os cálculos e fórmulas matemáticas sofreram alguma alteração cultural?

Certamente que não! Elas continuam servido como sempre serviram, porém como em muito do que se vê em nossos dias, também esta ciência acaba por ser dominada e usurpada na tentativa de condicioná-la a interesses particulares. Talvez alguém até questione: mas, e o que não é?

Não posso ignorar que há espaços em que as estatísticas funcionam muito bem, porém estes dados $$$ não são revelados por segurança nacional.

Como se não bastasse a pobre cultura política que envolve as campanhas em nosso país, pobreza que se perfaz na vida do próprio povo que sofre na ausência de ações concretas, sérias e que ajudam a construir uma nação forte, resta o discurso científico deturpado e mal intencionado.

As heranças históricas da "Pátria amada, Brasil", de uma política de servidão, ainda se mantém nas ilusões de uma construção democrática lenta e sempre de novo, usurpada. E não precisa compreender estatística para perceber que neste ritmo, com esta visão, vai se levar muito, muito tempo para alcançar as ainda utopias brasileiras - utopias, porque na tensão com algo concreto e real só pendem para um polo. Mas espera-se, que ao menos, se possa ver muitos filhos que não fogem à luta, e que esta estatística cresça de forma autêntica.

E por falar em "autêntica", diga-se de passagem, que "palavrinha" fora de moda. Pois a usurpação de informações estatísticas não é novidade de campanhas eleitorais, mas perpassa ano após ano, criando em diversos setores estruturas frágeis, bolos de puro glacê, tentando mascarar interesses que se configuram em processos levianos e ineficazes, mas "estatisticamente relevantes", pelo menos para alguns. A educação brasileira, sabe bem o que isto significa.

Mas talvez, tudo isso seja apenas uma questão de estatística (sem desprezo pela real ciência). Fome, saúde, educação, trabalho, etc. Para alguns, apenas estatísticas, para outros dura realidade. A resposta, certamente um problema na amostra.

Salve! Salve! Brasil!
Ederson Malheiros Menezes

sexta-feira, 18 de julho de 2014

FESTA!!! Pensando sobre a COPA DA VIDA

Mesmo sendo brasileiro, morando no país do futebol, não sou um entusiasta acerca desta modalidade esportiva. Poderia ser classificado como um daqueles torcedores que normalmente não assiste muito mais do que jogos do Brasil na Copa ou a final de algum campeonato brasileiro.

Mas apesar das limitações de torcedor, o evento Copa do Mundo faz pensar sobre algumas realidades que quer se tenha consciência ou não, fazem parte da vida de todos nós. Neste sentido será importante pensar sobre as manifestações "anti-copa" do ano passado, pensar nos investimentos realizados no país (a quem de fato eles beneficiam), nos bastidores políticos da Copa, nos interesses nem sempre claros do evento e no pós-Copa.

Certamente que como qualquer outra iniciativa deste porte, e mesmo que fosse para um planejamento familiar se faz necessário fazer um balanço final, tentar responder a questão acerca dos frutos e resultados - e não se está falando do fato da Alemanha ter ganhado a copa (se bem que agora, após as investigações de corrupção que envolvem a FIFA, a coisa ficou complicada).

Para isso, é necessário refletir para além da qualificação técnica da seleção brasileira, dos gols mais bonitos da Copa. É preciso pensar sobre a razão de um evento assim receber tanta importância e atenção, do motivo que fundamenta as reportagens e instigam os caminhos e assuntos de "reflexão" do povo brasileiro.

Aprecio o futebol, mas será que não temos assuntos mais importantes para ocupar nossos diálogos e mobilizar uma torcida no sentido de construir um país melhor, uma torcida que chore as derrotas do dia a dia e acredite em algo mais concreto e transformador? A justificativa de alegria momentânea e analgésica não me convenceu. (Agora sim, discutir futebol ficou coisa séria, pois antes era apenas sobre futebol, mas agora, rolou a bola da corrupção, e que bolão).

Não sou contra a Copa, sou contra ilusão, sou contra manipulação de massa e desvirtuamento das reais possibilidades humanas de construir a festa da vida, festa essa que não deixa ninguém passar fome ou sem saúde, que passo a passo concretiza-se para todos ou pelo menos para a maioria.

Não estou esquecendo do desafio de inserir o Brasil no cenário econômico mundial, ou pelo menos, polir sua imagem para investidores (e aqui quanta coisa há para pensar). A proposta é pensar se este grande evento festivo do futebol que ocupou e continuará ocupando recursos financeiros e tanto tempo de nossa vida foi o caminho certo para se alcançar a superação de desafios que nos envolvem no Brasil.Também não estou ignorando as respostas já recebidas de que não se está esquecendo estes desafios, apenas gostaria que as pessoas não discutissem ou visualizassem somente a vitrine da Copa. (De fato, os bastidores são maiores que as vitrines e infelizmente a visão não está sendo agradável).

A proposta aqui é simples, fazer pensar um pouco mais sobre os fatos que nos envolvem e sobre como vamos nos comprometer com a Copa da Vida, para ver se no final, dará para fazer festa com todos - ou pelo menos com a maioria. E a festa em proposição não é um momento restrito em estádio de futebol, mas vem antes dele e continua depois dele. Ela acontece no dia a dia, em casa e fora dela. "Sou brasileiro, com muito orgulho".

Ederson Malheiros Menezes

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Ciência Social brasileira (1970-1995)




Volume I - AntropologiaCatálogo / O Que Ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995) Volume I - Antropologia

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Volume II - SociologiaCatálogo / O Que Ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995) Volume II - Sociologia

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Volume III - Ciência PlíticaCatálogo / O Que Ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995) Volume III - Ciência Plítica

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terça-feira, 20 de maio de 2014

Nas nuvens... a virtualização das ideias e da vida

NAS NUVENS - a virtualização das ideias e da vida

Na atualidade quando se ouve dizer que alguém está com a cabeça nas “nuvens” pode significar pelo menos duas coisas diferentes: a primeira delas e a até então mais comum, significa estar com pensamentos distantes, pensando longe; já a segunda opção, diz respeito as novas formas de arquivos digitais que ficam hospedados em lugares muito distantes do autor, ideias em arquivos que estão na “nuvem” ou nas nuvens, tendo em vista os diversos lugares opcionais.

Não é difícil lembrar do tempo em que as ideias eram registradas em papéis com caneta e lápis, depois com a inovação tecnológica passaram a ficar armazenadas no próprio computador, mais especificamente no HD. Alguns passaram depois do abandono dos disquetes a usar os pendrives e HDs externos. Bom, o fato é que agora as ideias estão nas nuvens.

Os benefícios estão diretamente ligados ao fato de que o acesso é possível de qualquer lugar e por pessoas diferentes simultaneamente, uma nova ordem de acesso e edição. Por outro lado, sem a rede e sem a internet, pode o usuário dependente da nuvem ficar sem nada em mãos.

Ainda outro fator talvez um pouco mais misterioso é o fato de “tudo estar na rede”. Apesar dos anúncios de segurança, sabe-se bem que nestes dias de espionagem a segurança é algo questionável – Dilma Rousseff que o diga! Livros de ficção dos meados de 1930 e 1940 escritos por ingleses já apontavam “uma forma poderosa de controle intrusivo” mediado pela tecnologia e ciência, o que faz pensar um pouco mais sobre o assunto.

Outra observação é que a vida está numa dimensão muito mais ampla na transição para rede e não apenas as ideias. Os simuladores da vida crescem no sentido de que virtualiza as mais diversas expressões humanas, práticas e até mesmo as emoções. A ideia de simulador começa a desaparecer e surge então a própria realidade virtual – que coisa estranha! Mas o fato é que algumas pessoas começam a ter uma vida marcada pela virtualidade e seus desdobramentos tecnológicos.

Pode-se então perguntar por exemplo sobre quais são as implicações de virtualizar as subjetividades. Certamente que a resposta terá significado ainda mais amplo quando for perguntado acerca do destino das subjetividades humanas virtualizadas. Não há como negar o interesse por aquilo que é mais íntimo e pertencente a esfera “secreta” da vida humana – são muitos os interessados nestas informações e não é difícil imaginar as mais sombrias razões.

Quantos compreendem ou pensam sobre isso, creio que muito poucos. Afinal, estão todos completamente nas nuvens.

Ederson Malheiros Menezes

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Uma brevíssima análise (sociológica) e pessoal do ocorrido em Três Passos – RS


As barbáries e atrocidades vistas nos canais de comunicação eram motivo de espanto nas cidades, vilas e comunidades interioranas. Cresci e vivi a maior parte de meu tempo em uma delas, próximo cerca de 30 km de Três Passos – RS, cidade que visitava rotineiramente. Percebo hoje com maior clareza as influências sofridas no período da adolescência e juventude e que instigavam maneiras de pensar e viver, que alimentavam sentimentos conturbados e promoviam a vida plástica, de vitrine, com marcas de ambição. Não é difícil recuperar lembranças sofridas na pressão social e de classe que na juventude era marcada (e ainda marca) na simples possibilidade de dirigir um carro – a promoção e realização de pertencer a uma classe “superior” (mesmo que isso fosse apenas status), que podia tudo, inclusive fugir da polícia conforme se via nas belas apresentações dos grandes atores cineastas.

Mas a pergunta que não quer calar em meu interior é como pode uma pessoa interiorana ter uma identidade tão violenta a ponto de virar um caso da mídia nacional? Refiro-me ao caso desta “família” da cidade de Três Passos no RS, que conforme anúncios jornalísticos deixam implícito, mataram uma criança de 10 anos (filho dele).

Fui colega do Leandro Boldrini no ensino fundamental (se não me engano 6ª ou 7ª série) e ao ter convivido com ele num mesmo contexto, recuperando lembranças de “guri” como dizem os gaúchos, não consigo imaginar por ter ele se mantido nesta região quais as influências teriam sido advindas dela própria para que neste presente, seu caráter pudesse de tal forma configurar-se.

A questão me fez pensar sobre as influências da globalização – principalmente num caráter midiático e tecnológico de construção social da violência, influências culturais, comportamentais, ideológicas e porque não dizer cosmológicas – que cultivam a formação de uma identidade violenta. Afinal, atrocidades humanas não tem mais localização geográfica como se observava acerca das pequenas cidades interioranas em relação as grandes metrópoles. A violência está junto, é semente que cresce como erva daninha em qualquer quintal.

No mundo de ganância predominantemente econômica, da promoção da corrupção em face as amarras da justiça, constitui-se espaço para que tipo de formação, caráter e postura humana? Logicamente, que isto não justifica a questão, e nem deve assim fazê-lo, esquecendo-se de que a vida é marcada por opções pessoais e que outras pessoas com as mesmas influências fizeram escolhas nobres. No entanto, isto coloca a forte possibilidade destas influências não gerenciadas, mas recorrentes, estimularem outros valores, outro caráter e consequentemente outras atitudes como estas narradas neste caso.

Não consigo ver a situação apenas como uma questão pessoal, o que como já dito, sem excluí-la de maneira alguma. Mas instiga-me as influências sociais hoje cada vez mais globais e próximas, tão próximas, acessadas no simples toque de um botão.

Aqui não justifico ou acuso a ninguém, pois não é a proposta desta reflexão, mas é inevitável que o alerta seja soado e promova ações humanas mais concretas por todos nós no sentido de verificar realidades subversivas que envolvem a vida gerando tristezas – e não apenas verificar, mas agir na desconstrução das mesmas. Caso contrário, podemos continuar nosso pranto esperando o fruto destas e outras influências negativas nas próximas gerações. Será violência de violência.

Ederson Malheiros Menezes

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Reflexões sociológicas acerca da inclusão

Na Itália a inclusão recebe destaque especial, por definição "Inclusão Total". No entanto, mesmo com seu reconhecimento percebe-se dificuldades na efetivação da inclusão, o que remete as várias dificuldades encontradas neste processo também no Brasil.

Ricardo Mazzeo fala de "Mixofobia" fazendo referência ao medo de se envolver com pessoas estrangeiras, ou seja, "diferentes". Percebendo a necessidade da inclusão ser trabalhada a partir da cultura, Mazzeo questiona Bauman sobre a temática.

O resultado é uma convocação para aprender a arte de conviver com os estranhos e sua diferença "em base permanente e cotidiana". E ainda, a importante observação sobre a fato de que a inclusão não pode ser algo parametrizado pelo ambiente escolar num contexto de vida global em que as pessoas migram de um lado para o outro. O reconhecimento por parte dos setores econômicos de alguns países de que no futuro será necessário o recebimento de grandes faixas de emigrantes coloca a questão da inclusão como debate cultural em grande escala.

A resposta inicial para a problemática perpassa o desafio do respeito e daquilo que pode ser denominado de "contrato cultural", algo que não depende apenas dos indivíduos envolvidos, mas acima de tudo de iniciativas políticas que abordem a questão e favoreçam os processos de inclusão.

Inevitavelmente há a urgência de um forçado amadurecimento nos relacionamentos, nas relações culturais com implicações certamente não apenas econômicas. Assunto urgente para debate público.

Ederson Malheiros Menezes

sábado, 12 de abril de 2014

Um bom sociólgo é um bom escritor

Um bom sociólogo é um bom escritor

A primeira vez que estudei sociologia foi como estudante de graduação na Brandeis University. Lewis Coser e Philip Slater foram meus professores e exemplos. Eles me convidaram para ajudar em uma tese e me ensinaram “como fazer sociologia[3]” corrigindo meus rascunhos. Quando Coser realmente gostava de um capítulo, ele rabiscava "Bravo" no topo da primeira página, e então ele editava o texto com suas observações. O inglês foi a terceira ou quarta língua que aprendeu, ele era um escritor muito bom e um editor maravilhoso.

Eu fui para a faculdade em Berkeley em 1970. Os alunos em Berkeley quase não recebiam lições de como fazer sociologia profissionalmente, comparado com o que Coser e Slater tinham me ensinado. Eventualmente, eu entendi que minhas experiências de graduação eram incomuns comparadas aos pós-graduandos mais típicos.
Em 1978, quando eu terminei a minha dissertação, "publicar ou perecer" foi o meu lema. Essa é a lógica no mundo de alta tecnologia de e-mail e internet conectando o mundo no século XXI. O mercado de trabalho limitado para doutores significa que uma carreira de sucesso como um sociólogo-pesquisador[4] requer ser um escritor publicável e moderadamente produtivo. Mesmo com essa realidade econômica, a pós-graduação, na maioria das áreas, ainda raramente fornece preparação para uma escrita publicável ou para a carreira docente. Bem ou mal, os professores mais bem sucedidos aprenderam a escrever por conta própria.
Alguns anos atrás, fui convidado para falar sobre ser um sociólogo em um seminário para novos estudantes de doutorado no centro de pós-graduação da University of New York. Eu aproveitei a ocasião para resumir algumas das coisas mais úteis que eu aprendi ao longo dos anos sobre a escrita sociológica. Eu gostaria que alguém tivesse dito estas coisas para mim. Como todos os conselhos, essas "dicas, observações e princípios" não devem ser levadas ao pé da letra.

1. Um bom sociólogo é um bom escritor
Tornar-se um bom escritor é um passo inteligente para a carreira de sociólogo, pois o sociólogo é acima de tudo um escritor. Para nós sociólogos, a escrita é a nossa ferramenta e nosso ofício. Acadêmicos de todas as áreas, que escrevem bem, tem maior facilidade para conseguir editoras e leitores. Escritores ruins e sem graça tem dificuldade de serem lidos e levados a sério[5]. Poucos alunos entendem isso quando começam a pós-graduação. Aprenda isso agora. Compreenda que os grandes pensadores pensam em si mesmos como escritores. Se você começar a pensar em si mesmo como um escritor, e tentar se tornar um bom escritor, você estará se destacando da maioria dos sociólogos.
Bons escritores têm sempre seus rabiscos guardados. Anote sempre suas reflexões, mesmo que desorganizadas. Até notas confusas e incompletas podem ser muito úteis mais tarde. Tome notas sobre sua vida. Copie trechos de livros e frases interessantes que tenha ouvido.
Bons escritores escrevem com frequência. Quando for escrever uma correspondência não se prive de usar plenamente as palavras. Escreva poesias, ensaios, notas de leitura e de campo, experiências pessoais e descrições detalhadas de coisas que são familiares a você. Mantenha diálogos por e-mail para escrever com frequência. Escreva, escreva, escreva.
Para fazer uma boa sociologia nós precisamos aprender as habilidades dos contadores de histórias e dos grandes mestres de todas as áreas do conhecimento. E todos nós somos obrigados a aprender por conta própria. Portanto, temos que aprimorar a escrita por conta própria. Recomendo comprar, ler e reler The Elements of Style de Strunk e White[6], e On Writing Well de William Zinsser. Os escritores profissionais bem sucedidos estão sempre aprendendo mais sobre seu ofício, mesmo quando eles estão revendo o que já sabiam e esqueceram.
A primeira regra da boa escrita é: escreva com clareza[7]. Você precisa tornar a sua escrita de fácil entendimento para o leitor assimilar o que você está dizendo. Deixe a mensagem clara e saia do caminho do leitor. Use frases curtas, varie o comprimento das frases no parágrafo, e use palavras difíceis com moderação. Até certo ponto é bom que o escritor “desapareça” do texto. Ao escrever de forma clara você ajuda o leitor a aceitar que o que você está dizendo é verdade. A ciência é em parte uma estratégia retórica.
A segunda regra da boa escrita é: Escreva na voz ativa. Ou, escreva na voz passiva e depois metodicamente edite seu texto de volta para a voz ativa[8].
Sociólogos tendem a focar em forças e tendências sociais, enquanto deixando de mencionar (ou mesmo pensar) a vida, a respiração, os atores humanos. Por exemplo: "O padrão foi criado", "a política foi alterada", e "A companhia Ford Motors foi processada".
Todas as três frases deixam em aberto quem fez a criação, a alteração e o processo. A escrita na voz ativa exige que nós deixemos os atores explícitos. Em vez disso, diga: "Os Beatles criaram o padrão", "Eleanor Roosevelt mudou a política" e "os parentes das pessoas que morreram em chamas processaram a companhia Ford Motor". Se não conseguimos dizer claramente quem são os atores, provavelmente precisamos de mais informações sobre os fatos ocorridos.
A terceira regra da boa escrita é: Organize bem o seu texto. Quando eu era um estudante de pós-graduação, um escritor de sucesso me contratou para ajudar a escrever um texto. Sua única recomendação foi: "apenas certifique-se de usar segmentações de A, B, C e 1, 2, 3 ". Ele quis dizer que uma texto deve ser bem organizado, que os temas devem ser agrupadas em parágrafos e seções. Seguir esse conselho e melhorar a organização de uma obra geralmente envolve a organização da estrutura do texto. Portanto, a organização das partes do texto é sua amiga.
A quarta regra da boa escrita é: Dar o seu trabalho para várias pessoas, principalmente aqueles que escrevem com clareza. Primeiro, peça que digam  o que gostaram no texto, o que ficou bom e o que acharam interessante. Todo leitor vai ter críticas. Embora necessário, a crítica pode ser desanimadora. Os amigos sempre irão demorar para lhe dizer o que acharam sobre seu texto. É difícil conseguir deles uma resposta imediata. Então peça para darem exemplos específicos de coisas que gostaram. Reafirme para eles em suas palavras  e a mensagem central do manuscrito. Mostre sede de conhecimento. Tente produzir o que seus leitores gostam. Force seus interlocutores a sugerir frases alternativas e soluções específicas para os problemas que eles encontraram. E leve as sugestões a sério. Se dois leitores de confiança encontrarem uma frase, parágrafo ou seção confusa, mude - mesmo se você acha que é a melhor coisa que você já escreveu na vida.
A boa escrita vem da reescrita. Eu costumo escrever pelo menos 4 a 6 rascunhos de coisas importantes, e às vezes letra por letra. A reescrita significa releitura, olhando de novo e de novo para as palavras, frases e sentenças desnecessárias e inadequadas. Mark Twain disse uma vez "A diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a mesma diferença entre um raio e um vaga-lume.".
A quinta regra da boa escrita é: Edite o trabalho de outras pessoas. Este é, de fato, a única maneira de se tornar competente em editar o seu próprio trabalho. É muito mais fácil ver os problemas em escritos de outras pessoas do que no seu.
Edite o seu trabalho, divida suas sentenças. Corte suas redundâncias, reorganizar seus parágrafos, reescreva suas sentenças na voz ativa, dê alternativas para frases, peça para desenvolver melhor as ideias mal formuladas. A longo prazo, a edição generosa que você fizer aos outros será a ação mais egoísta que você já fez. Escrever é um trabalho solitário. Escritores ficam sozinhos por muito tempo, olhando o texto no papel ou na tela do computador, dialogando com ele. Ao editar o trabalho de outras pessoas, escrever para pessoas que conhecemos, aprender o que os leitores inteligentes gostam de ler, incorporando as sugestões ao texto, isso torna o trabalho menos solitário e muito melhor.

2. Escrever uma pesquisa: contar histórias a partir de dados.
Nosso trabalho como sociólogos, estudiosos, escritores e professores, é contar histórias. Nunca se esqueça, e nunca aceite qualquer interpretação do seu trabalho que não inclua a ideia de que você é um contador de histórias. Você é um contador de histórias que conta histórias reais.
Para contar boas histórias é preciso dados, geralmente dados fieis, e se possível de muitos dados. Somente com dados fieis se pode escrever uma boa história. Os dados vêm em todas as formas - números, imagens, palavras, gravações, artefatos, pixels, o que seja. Ao contrário do que pensam muitos estudantes de pós-graduação, sociólogos e jovens universitários que estão tentando ter suas pesquisas publicadas, os dados obtidos sem teoria são melhores do que estudar uma teoria sem relacionar com dados.
Para obter boas informações é preciso fazer uma pesquisa antes. Temos que sair de casa, conseguir os dados, trazer para casa, e trabalhar com eles. Felizmente, as pós-graduações de Sociologia dão suporte para a aprendizagem das técnicas básicas de pesquisa, outra possibilidade é encomendar a captação dos dados através de empresas de pesquisa[9] que podem fazer um ótimo serviço. Para a maioria dos projetos de pesquisa é fundamental ter curiosidade, persistência, sorte e algum recurso.
Para contar boas histórias a partir de dados, nós temos que perceber o que interpretamos e o que queremos dizer. Isso requer reflexão. A maior parte do tempo, o escritor passa pelo processo de bloqueio de escrita. Às vezes, o bloqueio na escrita é causado por falta de dados, e para resolver isso temos que refletir sobre o que temos. Se você achar que está com bloqueio para escrever é preciso tomar isso como um sinal de que está precisando pensar mais sobre o que está tentando escrever, e que também pode precisar de mais informações. Temos de encontrar histórias para contar usando a interpretação dos dados.
Todo mundo faz alguma reflexão enquanto está escrevendo. No entanto, muitos problemas são resolvidos longe do teclado. Andar, caminhar, tomar banho, andar de bicicleta, dirigir, ler, ouvir música, ou simplesmente se encostar em uma parede às vezes pode estimular a reflexão e a escrita para algumas pessoas. Conversar com amigos e colegas também pode ajudar muito.  E alguns escritores só conseguem refletir sobre os dados quando estão escrevendo. Nesse caso, reescrever é ainda mais importante.
Encontre um modelo de formato de pesquisa[10]. Livros e artigos acadêmicos que tenha afinidade como o trabalho que você quer fazer. Se não podemos encontrar bons exemplos do tipo de pesquisa e de forma de escrita que nós queremos fazer, nós provavelmente não teremos condição de executar esse projeto.
Busque ler periodicamente revistas de alto nível acadêmico. Um sociólogo sério é um verdadeiro intelectual, alguém que joga de forma criativa com ideias e linguagem. Por isso, leia os melhores intelectuais que escrevem na atualidade. Estude suas obras e imite. Compre seus livros, ou pegue na biblioteca emprestado e leve para casa, mesmo que não vá conseguir ler tudo. Todos os bons estudiosos fazem isso. Para ser um intelectual competente também é preciso aprender a história do que se estuda. Quanto mais se sabe sobre a história do nosso tema, mais fácil será escrever sobre ele em qualquer campo, e melhor o trabalho fica.
Ao escrever um artigo, eu recomendo começar trabalhando com dados específicos, com um caso, e no final buscar desenvolver generalidades a partir dele. Use a teoria para explicar os dados. Conte a história a partir dos dados empíricos se orientando pela teoria. Depois de apresentar as interpretações sobre os dados, se assim desejar, poderá sair de trás “das cortinas” e explicar melhor as suas intenções no texto. Ao contrário de historiadores, sociólogos tendem a fazer o oposto - a começar com uma generalização ou hipótese. Eu acho que os sociólogos têm muito a aprender com historiadores sobre contar histórias.
Fazer um argumento é criar uma história. Um trabalho científico deve apresentar uma ou duas mensagens centrais e argumentos que os apoiem. Um trabalho deve narrar os fatos em torno do objeto de estudo e buscar traçar uma generalidade a partir deles. A teoria é uma história contada em um nível um pouco mais elevado de abstração, no entanto, não passa de uma narrativa. Se algo não pode ser contado como narrativa, então não faz sentido. E, se algo não faz sentido, não faz sentido contar. Porém, não tenha medo de não fazer sentido. As mesmas perguntas que podem ser impostas ao seu trabalho podem ser aplicadas ao trabalho de qualquer outra pessoa: Qual é o ponto defendido? Qual é o argumento? Qual é a história?
Desenvolva relacionamentos com outras pessoas que estão estudando o mesmo tema que o seu ou temas semelhantes. Leia seus escritos, converse por e-mail, fale com eles por telefone. Tente fazer deles seus amigos. No século XXI, temos a possibilidade de manter relações de trabalho, e até mesmo amizades íntimas com as pessoas que raramente vemos.
Escrever e pesquisar com outra pessoa pode ser algo divertido e produtivo. Duas pessoas podem ser mais espertas do que uma, e um trabalho escrito por duas pessoas pode ser mais interessante do que qualquer trabalho que uma das duas poderia fazer sozinha. Mas a colaboração entre duas pessoas não torna o trabalho menos complexo. Um bom trabalho escrito por duas pessoas leva pelo menos duas vezes mais tempo para ser feito do que um trabalho escrito por uma pessoa. Para fazer um bom trabalho sociológico, muitas vezes é necessário conhecer a fundo pelo menos duas áreas do conhecimento. Para fazer uma boa sociologia histórica, antes eu tenho que trabalhar bem com a sociologia e com a história. Ter a expertise em dois ou mais campos é necessário para muitos tipos de projetos de pesquisa e áreas de estudo. É necessário muito esforço para alcançar profundidade em dois campos, mas as recompensas pessoais, intelectuais e profissionais são substanciais.

3. Ser um sociólogo
Meu velho amigo, Jerry Himmelstein, escreveu um trabalho de graduação em seu último ano na Universidade de Columbia. Jerry trabalhou arduamente durante todo o ano. Nas últimas semanas ele virava dias e noites para concluir o trabalho. Já exausto, ele entregou a monografia no escritório de seu orientador. O orientador pegou calhamaço pesado, folheou-o brevemente e disse:
"Bom trabalho Himmelstein - você está querendo ir para a pós-graduação em sociologia, não é?"
"Sim, eu estou", respondeu Jerry orgulhosamente.
"Bem", disse o professor, "se você trabalhar duro, e se você for muito bom, você conseguirá fazer isso para o resto de sua vida."
Por que alguém iria querer fazer isso ?
Estou feliz de ser um sociólogo por várias razões, sobretudo por não ser um trabalho tão alienante. Gosto de ensinar e agora estou ficando muito bom nisso. Mas eu tenho sido contratado, pago, e promovido para aprender coisas e escrever um pouco do que eu aprendi. A escrita ainda hoje é algo difícil para mim, mas o aprendizado é fantástico. Como sociólogo eu posso estudar sobre quase tudo que eu quero.
Uma das melhores coisas de ser um sociólogo, é que podemos ir a qualquer lugar, não ver nada, não ler nada, não falar com ninguém, e sempre poderemos dizer que estávamos fazendo trabalho de campo. E pior que podemos realmente estar fazendo trabalho de campo. Ninguém sabe o que será útil para nossos escritos ou nossas aulas - e nós certamente também não sabemos. Como disse Edward Brecher, “certas coisas não aparecem no resultado”.
O nosso trabalho como sociólogos é aprender as verdades sobre o mundo social para escrever sobre elas. Grande parte do tempo, talvez a maior parte do tempo, nós não podemos estar indiferentes ou desinteressados. Mas podemos ser honestos e sinceros sobre o que interpretamos. O mundo real é feito de seres humanos e dificilmente é da forma como gostaríamos que fosse. As ações das pessoas, palavras e criações são muitas vezes surpreendentes, até mesmo peculiares, estranhas ou bizarras. Nossa tarefa como sociólogos é descrever de maneira mais clara e honestamente possível alguma parcela do mundo social. Se você não acredita que existam coisas verdadeiramente importantes a serem ditas sobre o mundo social e sobre o que as pessoas fazem, então você está no campo errado. Considere uma carreira no direito, filosofia ou economia.
Sociologia é uma ciência. Não é uma ciência puramente positivista ao molde das ciências naturais. Mas faz uso de muitas das ferramentas lógicas e empíricas das ciências naturais. Todas as ciências, incluindo a sociologia, procuram descrever e compreender o mundo. Mas a sociologia é também uma forma de arte - entre muitas outras razões, porque é uma variedade de literatura. (Robert Nisbet tem uma boa discussão sobre isso em seu livro,  A sociologia como uma forma de arte[11]).
Em Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística[12], Peter Berger diz que a sociologia não é definida pelo que ela estuda, nem pelas teorias e métodos que utiliza. Ele diz que a sociologia se distingue por suas perspectivas, especialmente pela sua desconfiança em relação aos dados obtidos. Berger oferece o que ele chama de “primeira verdade sociológica". A ideia de que um campo acadêmico tem uma "primeira verdade" é inteligente e ousado. A primeira verdade da sociologia de Berger é: as coisas não são o que parecem ser. Eu gosto muito desse conceito.
Berger aponta quatro características que ele considera centrais na escrita sociológica. Ele chama de desmascaramento (desmascaramento no sentido de revelar a verdade sobre algo), não-respeitabilidade (olhar o mundo a partir da perspectiva dos não-respeitáveis, os perdedores), relativização (compreensão de que quase tudo depende do contexto), e cosmopolitismo (uma valorização da visão cosmopolita e da diversidade humana). Eu amo fazer uma ciência com essas características. Todas essas características são importantes, mas acho que a primeira é a mais importante.  No mesmo sentido de Berger, eu afirmo que os sociólogos bons  são bons contadores de histórias, que mostram que as coisas não são como parecem ser.
Eu sou um wrightmillsiano. Eu acredito que decifrar os sentidos do mundo é um trabalho fascinante e útil. Eu amo interpretar o mundo, e para isso eu preciso de uma representação grande para poder me orientar e ter um parâmetro. Rotineiramente, eu busco entender quem eu sou, o que eu quero, e o que eu sinto a partir da observação do contexto histórico em que estou inserido em relação a minha biografia. Eu entendo minha própria vida visualizando-a no contexto político, econômico, cultural, institucional e histórico. Eu acredito que a imaginação sociológica pode realmente ajudar as pessoas - coletivamente e individualmente - para melhorar suas vidas, as tornando mais felizes, mais saudáveis e mais eficientes em tudo que fazem. Acredito que com mais força do que nunca.

4. Boa escrita como uma tradição sociológica.
Para C. Wright Mills, escrever bem era fundamental para a tarefa de interpretar o mundo social. Para Mills, entre as qualidades importantes que faziam seus heróis - Emile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Georg Simmel, Sigmund Freud, W.E.H. Lecky, Jackob Burckhardt, W.E.B. DuBois, Robert Park, Karl Manheim, Charles Beard e Thorstein Veblen -  a principal era a de que todos eram escritores bons ou muito bons habilidosos com as palavras. O que há em comum na maioria dos sociólogos bons ou apenas lidos na minha geração, nas gerações anteriores, de vertentes políticas e perspectivas sociológicas distintas, é que todos se viam como escritores e trabalharam duro para conseguir uma boa escrita. Certamente, alguns sociólogos, a partir de Talcott Parson a Harold Garfinkle, tiveram uma escrita densa, pesada, e prosa com jargões cheios. Porém a escrita mais didática também tem se mantido como uma tradição forte dentro da sociologia. Por exemplo, a partir de meados dos anos 1930 até meados dos anos 1970, junto com C. Wright Mills e Peter Berger, outros foram surgindo:
Robert Lynd, Helen Lynd, Lewis Coser, Rose Coser, Phillip Slater, Alice Rossi, David Reisman, Everett Hughes, Helen Hughes, Howard Becker, Robert Merton, Louis Wirth, Mirra Komarovsky, Alvin Gouldner, Paul Cressy, Oliver Cox, Alfred Lindesmith, Seymour Lipset, William F. White, Dennis Wrong, Jessie Bernard, Nathan Glazer, Elliot Liebow, Ralph Miliband, Vance Packard, Robert Nisbet, Erving Goffman, Norbert Elias, Betty Friedan, Michel Foucault, Irving Zeitlin, Eric Fromm, Phillip Reiff, Ralph Daherndorf, Herbert Blumer, Arthur J. Vidich, Joseph Bensman, Ned Polsky, Ernst Becker, Robin Williams, E. Digby Baltzell, Joseph Gusfield, John Seeley, Raymond Aron, William Domhoff, David Matza, Robert Blauner, Kingsley Davis, Reinhard Bendix, Herbert Gans, Daniel Bell, e Kai Erickson.
Na mesma época, boa parte dos bons antropólogos, historiadores, cientistas políticos, geógrafos, linguistas e filósofos também eram escritores hábeis. Suas obras importantes resistem e continuam a ter importância para os estudantes e pesquisadores, em parte, porque essas obras geralmente foram bem estruturadas em termos da frase e de parágrafo. Têm surgido muitos cientistas sociais que são bons e bem sucedidos, porque eles têm algo importante a dizer e dizem isso bem. Devemos aprender com os seus trabalhos e exemplos. No final, somente existem duas tarefas profissionais para o sociólogo - descobrir o sentido das coisas através do trabalho sociológico e escrever sobre ele com habilidade.


Harry G. Levine, Departamento de Sociologia, Queens College e Centro de Pós-Graduação, Universidade da Cidade de Nova York, Flushing, Nova York, 11367. e-mail: HGLevine@compuserve.com
Harry G. Levine
Departamento de Sociologia
Queens College, City University of New York
 
Tradução de Pedro Jorge Chaves Mourão
 
 
 
LEVINE, Harry G. Um bom sociólogo é um bom escritor. Tradução. Pedro J. C. Mourão. Fortaleza: S/Ed. Disponível em:  http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2013/01/um-bom-sociologo-e-um-bom-escritor.html
 


[1] Agradeço a contribuição dos amigos  Vinicius Frota, Napoleão Araujo Neto, Carlos do Valle, Diego de Almeida Alves
[2] Artigo originalmente publicado em http://dharma.soc.qc.cuny.edu/soc/faculty/pages/levine/docs/a-good-sociologist.html .
[3] No original “how to write sociology”.
[4] Aqui ele faz uma distinção entre o ofício de sociólogo como pesquisador e como professor.
Nos EUA essa diferença é mais clara devido a diversidade do mercado de trabalho, já no Brasil essa distinção ainda é pouco aparente.
[5] Um indício do fenômeno que Levine descreve pode ser percebido na transformação linguística através das redes sociais eletrônicas e microblogs, como facebook e twitter. Dificilmente, as pessoas leem textos grandes e complexos nas mídias digitais, que cada vez mais ganham espaço no cotidiano dos leitores. 
[6] Ambos sem tradução para o português:
STRUNK, Jr., William; E.B. White. The Elements of Style. Boston: Ed  Allyn & Bacon, 2009.
ZINSSER, William Knowlton.On writing well : the classic guide to writing nonfiction.New York: Ed First HarperResource Quill, 2001. Disponível em: . Acesso em: 3 dez. 2012.
[7] Lembro que durante minha própria pós-graduação meu orientador, Domingos Sávio Abreu, sempre fazia a recomendação: Escreva como se sua avó fosse ler. Com isso ele queria dizer para que eu não fosse prolixo na escrita.
[8] Um exemplo de voz ativa: O deputado roubou o povo. Na voz passiva seria: O povo foi roubado pelo deputado.
[9] No mercado norte-americano existem diversas empresas que fazem pesquisa de mercado, pesquisa de opinião e até especializadas em pesquisas acadêmicas.
[10] Aqui o autor se refere à busca por um trabalho que possa orientar na confecção da estrutura da monografia.
[11] NISBET, Robert. A sociologia como uma forma de arte [orig. ingl.1962]. Trad.S.Garcia.Re.técn.H.Martins.Plural,Revista do curso de pós-graduação em sociologia da USP, São Paulo, n.7, pp.111-130,10 sem.2000. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/ds/plural/edicoes/07/traducao_1_Plural_7.pdf
[12] BERGER, Peter I. Perspectivas Sociológicas – uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1986.